Redondilhas - Observe a letra
de "Paratodos", de Chico Buarque:
...Foi Antonio Brasileiro
quem soprou esta toada
que cobri de redondilhas
pra seguir minha jornada
e com a vista enevoada
ver o inferno e maravilhas
nessas tortuosas trilhas
a viola me redime
creia ilustre cavalheiro
contra fel, moléstia, crime
use Dorival Caymmi
vá de Jackson do Pandeiro...
quem soprou esta toada
que cobri de redondilhas
pra seguir minha jornada
e com a vista enevoada
ver o inferno e maravilhas
nessas tortuosas trilhas
a viola me redime
creia ilustre cavalheiro
contra fel, moléstia, crime
use Dorival Caymmi
vá de Jackson do Pandeiro...
Chico Buarque
usou a palavra "redondilhas", que são versos com um determinado
número de sílabas. Mas o compositor não apenas usou essa palavra como pôs em
prática o seu conceito. O professor de literatura Ulisses Infante nos ajuda a
definir o significado de "redondilha": "Redondilha é o
nome que se dá ao verso de cinco sílabas poéticas ou de sete sílabas poéticas.
O verso de cinco sílabas poéticas é a redondilha menor". Esse recurso
usado por Chico Buarque remonta à Idade Média.
O compositor
recorreu a um artifício legítimo: usou o artigo em "O meu pai", mas
não o usou em "Meu avô". Dessa forma, os dois versos ficaram com sete
sílabas poéticas (só se conta até a última sílaba tônica)".
O meu pai e-ra pau-lis-ta
Meu a-vô per-nam-bu-ca-no
Meu a-vô per-nam-bu-ca-no
Vamos a mais um
exemplo, a canção portuguesa "Cantiga Partindo-se", de João Raiz de
Castel’Branco e Vitorino:
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por nós, meu bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém
tão tristes, tão saudosos
tão doentes da partida
tão cansados, tão chorosos
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida
Partem tão tristes os tristes
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém
meus olhos por nós, meu bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém
tão tristes, tão saudosos
tão doentes da partida
tão cansados, tão chorosos
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida
Partem tão tristes os tristes
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém
Essa canção faz
parte do disco "Leitaria Garrett", do compositor, cantor e violonista
português Vitorino. A letra, do poeta João Raiz de Castel’Branco, data do
século XVI, conforme o professor Ulisses Infante: "Hoje, nos referimos a
este poeta simplesmente como Castelo Branco. Seu trabalho faz parte do livro O
Cancioneiro Geral, publicado em 1516. Podemos notar que o poeta também usou
a redondilha de sete sílabas".
Se-nho-ra, par-tem tão tris-tes
Meus o-lhos por nós, meu bem
Meus o-lhos por nós, meu bem
Guarde o
significado de "redondilha":
redondilha maior (ou simplesmente redondilha) = verso
de 7 sílabas poéticas
redondilha menor = verso de cinco sílabas poéticas
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