Cruzamento de regências

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"arrasar com"
Observe a letra da canção "Política voz", gravada pelo Barão Vermelho:
Eu não sou um mudo balbuciando, querendo falar
eu sou a voz, a voz do outro, que há dentro de mim
guardada, falante, querendo arrasar
com o teu castelo de areia
que é só soprar, soprar
soprar, soprar e ver tudo voar...
Você notou alguma coisa diferente na letra? Em certa altura o letrista escreve:
arrasar com o teu castelo de areia.
Ocorre aí um fenômeno lingüístico chamado contaminação. Em tese, o verbo "arrasar" é transitivo direto, não pediria preposição:
O furacão arrasou a cidade.
O verbo "acabar" pode ser usado com o mesmo sentido de "arrasar":
O furacão acabou com a cidade.
Assim, o que ocorre é o cruzamento da regência do verbo "acabar" - com o sentido de destruir, que requer a preposição "com" - com a do verbo "arrasar". Os sinônimos de certas palavras acabam por receber a companhia da preposição que na verdade não exigem. O verbo "arrasar" é um deles. No padrão formal da língua, deve ser usado sem a preposição "com".
Os lingüistas podem argumentar que essa variante deve ser aceita, mas em nosso programa temos sempre a preocupação de ensinar o padrão formal e mostrar o que acontece nas variantes. Quando você escrever uma dissertação, por exemplo, utilize o verbo "arrasar" sem a preposição.


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