Partículas de realce
Vou-me embora pra Pasárgada
lá sou amigo do rei...
lá sou amigo do rei...
Todo mundo
conhece esses versos de Manuel Bandeira, não é? Será que o pronome
"me", de "Vou-me...", pode ser retirado da frase? Vejamos:
Vou embora pra Pasárgada.
Essa frase está perfeitamente correta. na
primeira versão, o pronome tem a função de realce, de reforço de uma idéia.
Esse tipo de palavra, que se acrescenta a uma frase para dar ênfase,
chama-se "partícula expletiva". Ela tem outras denominações:
"expressão de realce", "palavra de realce", "palavra
expletiva", "expressão expletiva" ou ainda "partícula de
realce".
Algumas palavras
têm esse papel na língua portuguesa, como o pronome oblíquo "me",
combinado a determinados verbos, como "ir":
Vou embora...
Vou-me embora...
Vou-me embora...
A palavra "que"
também é muito usada dessa forma. Veja este trecho da letra da canção
"Quando", de Roberto e Erasmo Carlos, regravada pelo Barão Vermelho:
Quando você se separou de mim
quase que a minha vida teve fim
sofri, chorei tanto que nem sei
tudo que chorei por você, por você...
quase que a minha vida teve fim
sofri, chorei tanto que nem sei
tudo que chorei por você, por você...
Esse "que"
em negrito, na letra da canção, pode ser tirado da frase, não é? O verso
ficaria "Quase a minha vida teve fim". A palavra foi colocada por
motivo de ênfase. Vamos a mais um exemplo, a letra de "Influência do
jazz", de Carlos Lyra:
... Cadê o tal gingado que mexe com a gente
coitado do meu samba, mudou de repente
influência do jazz quase que morreu
e acaba morrendo está quase morrendo
não percebeu...
coitado do meu samba, mudou de repente
influência do jazz quase que morreu
e acaba morrendo está quase morrendo
não percebeu...
Podemos tirar a
palavra "que" do verso "quase que morreu" sem
alterar a estrutura ou o sentido da frase. Ela tem aqui função meramente
expressiva. Mas é bom observar que esse recurso aparece muito em textos
poéticos ou literários mais livres. Alguns gramáticos não apreciam esse tipo de
coisa em textos mais formais. No entanto vale saber que a expressão expletiva
existe e é um fato da língua portuguesa.
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